Entenda como você influencia a alimentação dos seus filhos

"Eu sou você amanhã!" Afinal, nossas escolhas e exemplos refletem na saúde e atitudes dos nossos filhotes. Quer aumentar as chances do filhote ter um futuro mais saudável? Confira as nossas dicas!

Se seu filho come mal, o Gourmet Jr. alerta: pode ter – e muito – a ver com os pais. Há mais de 30 anos estudando a relação entre pais, crianças e comida, o Dr. Benny Kerzner, pediatra e gastroenterologista do Children’s National Medical Center, em Washington DC/EUA, é especialista em nutrição e desordens alimentares infantis. Em 2015, junto com outros médicos e pesquisadores, publicou um guia destinado aos pediatras com sugestões de como lidar com as queixas das famílias sobre a relação da criança com o prato de comida.

Nesse material, os autores afirmam que, nos Estados Unidos, mais de 50% dos pais afirmam que seus filhos não comem bem. E uma das indicações aos pediatras é que, ao analisar essas dificuldades alimentares, eles devem levar em conta o relacionamento entre a criança e o adulto que está a está alimentando.

Para entender mais como a relação entre pais e filhos influencia na alimentação, a Camila conversou com a Dra. Ana Carolina Fantin, Psicóloga pela PUC-SP, com Especialização em Psicologia Clínica e Psicanálise também pela PUC-SP, que explicou a relação entre crianças e comida, pelo olhar da psicanálise e de que forma mães e pais influenciam na alimentação de seus filhos.

De onde vem a relação entre alimentos, pais e crianças?

Dra. Ana Carolina: A alimentação é um dos primeiros fatores que estabelece uma forma de troca afetiva entre pais e filhos dentre outros estímulos e cuidados essenciais como colo, higiene, conforto e acolhimento. Podemos entender a alimentação de um bebê e da criança, simbolicamente, como um gesto de amor profundo, como a expressão do desejo de vida que os pais têm pelo filho. É interessante destacar, especialmente, a amamentação como forma primordial de troca afetiva entre mãe/bebê. Não é à toa que os bebês muito pequenos, por vezes, se acalmam no peito da mãe.

A alimentação é um dos primeiros fatores que estabelece uma forma de troca afetiva entre pais e filhos.

De que forma as preferências, resistências, opções ou traumas dos pais com determinados alimentos é repetido pelos filhos?

Dra. Ana Carolina: Costumo dizer que as crianças são como esponjas: ela “chupam” tudo de seus pais, aquilo que eles expõem e aquilo que eles tentam “esconder”, consciente ou inconscientemente. Sendo assim, elas captam o comportamento dos pais em relação a alimentação. O fato dos pais gostarem mais ou menos de um alimento (ainda que tentem disfarçar isso pro filho) pode interferir na forma como esse alimento é oferecido, no grau de tolerância caso ele seja recusado (“tudo bem, vai…eu também detesto isso”) ou no grau de satisfação que sentem caso o filhote coma bem (“esse é igual a mim, tem o mesmo gosto que eu”), etc.

Alguns fatores podem estar presentes nesses exemplos: a criança pode imitar os pais na rejeição de algo (“nem o papai/mamãe gostam/comem isso”) ou pode comer para agradar pois gosta de se sentir amada, elogiada (“mamãe/papai fica feliz, me elogia, sinto o orgulho dele por mim”). A criança “saca” a relação e a reação de seus pais com os alimentos e com eles!

Qual a importância de ensinar para os filhos, desde pequenos, a se alimentar corretamente?

Dra. Ana Carolina: Sem dúvida a questão da saúde fala muito alto! Uma boa alimentação é a base da saúde física, psíquica, intelectual. É a base do desenvolvimento saudável como um todo. Mas, devemos lembrar que, melhor do que falar aos pequenos o que eles devem fazer, é mostrar – servindo de exemplo.

Melhor do que falar aos pequenos o que eles devem fazer, é mostrar – servindo de exemplo.

Para a psicologia, de que forma sabores, cheiros, texturas e cores de alimentos influenciam na relação da criança com comida no futuro?

Dra. Ana Carolina: A alimentação, o alimentar-se, o comer são funções constituídas desde os primeiros momentos de vida de um ser humano, a partir da relação afetiva que se estabelece entre o bebezinho e seus cuidadores. Partindo dessa premissa, entendemos que a relação de uma criança com a comida transcende a forma física ou de apresentação do alimento. O que determina como a criança vai se relacionar com a alimentação é fruto de todo um processo inconsciente que permeia a relação mãe-bebê nas mais variadas nuances. A fase de desenvolvimento que ela se encontra também é muito importante! E existem as “fases individuais” de cada criança: tem a fase que a criança “gruda” num determinado alimento, a fase em que “só comem bem com fulano e ciclano, mas com a mãe não come nada”, a fase que está testando limites e tudo que é oferecido e “não quero” e por aí vai!

Devemos lembrar que, diferentemente dos exemplos acima (que entendemos como pequenos períodos de cada criança), um caso de recusa alimentar mais constante sugere a necessidade de procurar um psicólogo. Muitas vezes, é algo simples que se ajusta facilmente. Para ajudar os pais a pensarem, vale a pena observarem o entorno, o dia a dia do filho e a partir daí levantar as hipóteses.

Entretanto, como estamos falando de crianças, é claro que a aparência dos alimentos, a apresentação, o colorido, texturas e formas podem ser fatores de facilitação para o processo de alimentação dos pequenos! Mas, é uma facilitação e não a causa do comer bem ou comer mal.

Do ponto de vista psicanalítico, é possível que pais que não levam uma vida saudável determinem esse estilo para os filhos?

Dra. Ana Carolina: Sem dúvida! Como falei anteriormente, os pequenos percebem bastante os movimentos, escolhas e a posição dos pais frente a diversas questões e a chance deles imitarem esse tipo de comportamento existe: é mais fácil eles fazerem o que os pais fazem do que fazerem o que os pais dizem (e não praticam). Existe todo um processo de identificação (consciente e inconsciente) entre as crianças e seus pais atuando, principalmente, durante a primeira infância (até os 7 anos).

Os pais devem buscar se sintonizar com o filho no sentido de identificar possíveis fatores que possam estar deixando a criança desconfortável.

Como os pais podem reverter essa situação?

Dra. Ana Carolina: Com muita tranquilidade, buscando informações sobre a alimentação infantil, buscando ajuda de um profissional, se for o caso, e mantendo a certeza de que tudo se resolve.

Dica importante: os pais devem buscar se sintonizar com o filho no sentido de identificar possíveis fatores que possam estar deixando a criança desconfortável. Fatores como a idade, a dinâmica familiar, o momento em que a família se encontra (mudanças, separações, nascimentos e perdas, novas atividades da criança e/ou dos pais), se os pais estão muito ausentes ou se “sufocam” a criança com excessos, forma de educação oferecida a criança são alguns exemplos que podem ser os responsáveis para uma dificuldade na alimentação.

Considerando que, na maioria dos casos, a dificuldade com a alimentação das crianças está ligada ao psicológico junto ao dia a dia concreto da família creio que, perceber o que não vai bem, permitir a criança a expressão de seus sentimentos e conversar com ela sobre os fatos e ajudá-la a entendê-los, pode ser uma boa forma de lidar com o sintoma da dificuldade alimentar.

Quais suas dicas para pais que enfrentam problemas dessa ordem?

Dra. Ana Carolina: Mantenham a calma. Não se desesperem porque o pequeno não vai morrer de fome. A família vai encontrar um caminho, existe solução. A primeira é sair do desespero: “ele não come, ai meu Deus! É muito importante que não cedam a chantagens das crianças bem como não proponham trocas/presentes “porque comeu tudo”. Não fiquem fazendo mil e uma opções de alimentos “para tentar que o filho coma” (come-se o que tem na mesa para a família ou o que foi destinado a criança). Não abram mão das regras estabelecidas para a rotina de alimentação (sim, regras e horários são fundamentais até nisso!) “só pra ver se ele come” e, importante (e difícil!): não se tornem reféns dos filhos implorando para que eles comam, vivendo em função disso. A criança percebe a angústia dos pais com isso e pode tentar “manipular” coisas em benefício próprio (nem que seja ser o centro das atenções). Tentem fazer da alimentação algo simples e prático. Lembrem-se: regras para a alimentação também são fundamentais.

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