O que a alimentação dos índios tem a nos ensinar?

O arqueólogo Tiago Hermenegildo, doutorando da Universidade de Cambridge, conta sobre a alimentação dos índios da Amazônia desde os tempos pré-coloniais. Tem muita informação gostosa e interessante!

O trabalho do arqueólogo está mais para Sherlock Holmes do que para Indiana Jones. Coletando pistas que as civilizações deixaram, eles vão desvendando o mistério de como era o modo de vida dos seres humanos. Muitas descobertas não são nada elementares e vêm recheadas de informações muito curiosas, como a alimentação dos povos indígenas na Amazônia.

O arqueólogo Tiago Hermenegildo está finalizando seu doutorado pela Universidade de Cambridge sobre a alimentação e a vida dos povos que habitavam a Amazônia cerca 2 mil anos atrás. Ele nos contou sobre a diversidade da dieta indígena, que vai muito além da mandioca e do peixe, e passa por ingredientes como cacau, milho, amendoim e até a abóbora. Ficou impressionado também com a forma que essas populações se relacionam com o ambiente, de onde elas tiram o alimento, mas causam um impacto muito menor do que a agricultura comum.

Os primeiros habitantes do Brasil faziam parte de diversos povos, mais de 1.000 de acordo com alguns autores. Hoje, temos em torno de 254 etnias que possuem uma diversidade cultural muito rica e muito a nos ensinar sobre papá saudável e uma relação respeitosa com a natureza.

Quais são os alimentos de origem indígena?

Na Amazônia, sem dúvida, a planta domesticada pelos indígenas mais conhecida é a mandioca, mas existem muitas outras espécies importantes como amendoim, pimenta, abacaxi, cacau, pupunha e diversas espécies de frutas. Espécies domesticadas em outras partes da América do Sul como milho, batata-doce e abóbora, mostram evidência de consumo na Amazônia desde uns 3000 anos atrás.

Além disso, existem espécies não domesticadas que são amplamente consumidas hoje em dia, como o açaí e a castanha do Pará. Há também uma série de outras espécies menos conhecidas fora da Amazônia como o tucumã, a bacaba, o buriti, patauá.

Quais foram as descobertas que você fez ao longo da sua pesquisa e dos seus anos de estudo que mais chamaram a atenção?

O que mais me chamou atenção foi a incrível diversidade de recursos e estratégias de manejo utilizadas na Amazônia. Por muitos anos foi propagada a ideia de que na Amazônia pré-colonial só se vivia de farinha de mandioca e peixe, mas evidências recentes vem demonstrando a importância do cultivo de milho e do manejo de plantas nativas para essas populações.

Fale um pouco mais sobre a questão do manejo indígena da floresta. Como é essa relação com o ambiente e o alimento?

Ao que tudo aponta, o manejo é uma relação milenar entre o homem e a floresta na Amazônia. Diferente do cultivo, o manejo usa estratégias de longo prazo favorecendo espécies importantes e removendo competição de outras espécies para aumentar a produtividade local de recursos nativos. O manejo causa muito menos impacto do que o cultivo já que mantêm a floresta, somente alterando sua composição local.

 

O Gourmet Jr recomenda a consulta de um profissional especializado em caso de dúvida quanto a qualquer informação disponível no portal.

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