O hábito de “limpar o prato” pode ser prejudicial

“Quero ver você limpar o prato!” Essa é uma frase típica de muitos adultos na hora de sentar-se a mesa com os filhos. Mas, será que é certo pedir para as crianças comerem até o último grãozinho da refeição?

Na dúvida, o ideal é perguntar

Para entender melhor como isso funciona, o Gourmet Jr. conversou com a nutricionista especializada em nutrição infantil , Priscila Maximino:

GJr.: As crianças conseguem ter o controle da fome que sentem e do quanto devem comer?

Priscila Maximino: Sim. Podemos ver isso desde o momento em que um bebê nasce e se incomoda, chora e fica inquieto para sinalizar que está com fome. Já quando ele está satisfeito recusa receber mais leite, virando o rostinho para o lado como sinal de que já tomou aquilo que é o suficiente. Para as mães que amamentam, por exemplo, são esses sinais que contam. Não há o controle de quantos mililitros de leite o filho tomou durante a mamada, porque ela está em interação com a criança. Esse controle do bebê em regular sua fome e saciedade chamamos na pediatria e na nutrição infantil de regulação interna do apetite. Esse é um momento muito importante, quando o pequeno começa a interpretar o que é a fome e o que é a saciedade. Com o passar dos anos, a criança vai ganhando mais autonomia e mantém esse autocontrole. E é importante que os pais saibam que a quantidade de comida deve ser determinada sempre pelos filhos, de acordo com os sinais de saciedade ou de fome que ele vai dando.

GJr.: Existem fatores que podem contribuir para que esse autocontrole da criança seja prejudicado?

Priscila Maximino:
Com o passar dos anos alguns fatores externos como a alimentação forçada, erros na rotina alimentar e a imposição dos pais do quanto as crianças devem ou não comer, podem comprometer essa capacidade que os pequenos têm de se autorregular.

GJr.: É saudável deixar a criança sentir um pouco de fome entre as refeições?

Priscila Maximino: O ideal é que duas ou três horas depois que a criança comeu, os adultos já ofereçam um lanchinho. É comum, por exemplo, que às onze horas da manhã a criança esteja começando a ter fome, mas muito dificilmente ela vai verbalizar isso e falar: “Mãe estou com fome!” E quanto menor a idade, menor essa capacidade de comunicação. Então, ela, irritada, vai começar a procurar comida. Abrir armários e geladeira em busca de algum alimento que sacie o que ela está sentindo que é, muitas vezes, o doce. E a consequência disso vai ser a perda de apetite na hora do almoço ou do jantar.

Uma pesquisa da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos,também revelou que não.

Segundo os estudiosos, quanto mais as crianças são obrigadas a limpar o prato, maior é a tendência de não comer refeições saudáveis e exagerar nos doces.

GJr.: Os pais também devem aceitar que podem existir dias que o filho não esteja com um bom apetite, ou realmente não goste do sabor de alguns alimentos? Como é possível identificar essas situações?

Priscila Maximino:  Muita coisa pode modular o apetite da criança. Podemos pensar também na possibilidade de ela estar doente, com problemas relacionados ao peso, ao crescimento ou tomando algum remédio, que possa alterar seu apetite habitual. Isso acontece com todos nós e também com as crianças. É algo normal. Quando interpretamos o bem-estar dos pequenos, também percebemos o quanto eles têm de apetite. Com relação aos alimentos, existem muitos tipos de aversões, até por nós, adultos. No momento em que a criança recusar algum alimento, evite forçar. O ideal é servir depois variando o preparo, mas sem esconder e sem trair a confiança.

GJr.: Quais são os riscos que as crianças correm quando os pais forçam para que elas “limpem o prato”?

Priscila Maximino:  Um dos grandes problemas em tratar a criança dessa forma é que você demonstra que não está confiando quando ela diz que está ou não está com fome e, consequentemente, impedindo que ela tenha esse mecanismo de autocontrole, uma capacidade nata. Nunca se deve forçar uma criança a raspar o prato, porque ninguém obriga ninguém a comer. As consequências disso podem ser ainda o desenvolvimento de fobias, compulsões e problemas ligados à obesidade, já que os pais muitas vezes colocam uma quantidade a mais de comida necessária para o desenvolvimento saudável da criança.

GJr.: Qual é a melhor maneira de servir alimentos para as crianças de uma forma atrativa e não intimidadora?

Priscila Maximino:  Mantendo uma rotina alimentar saudável e de horários certos, para a criança saber que aquela é a hora da refeição; participando das refeições em família. Quando os pais estão perto dos seus filhos eles conseguem olhar qual é a quantidade habitual que eles comem; e oferecer alimentos que apresentem os nutrientes de que a criança precisa, com uma alimentação bem variada. É muito importante também conversar com os pequenos, perguntar se estão satisfeitos ou se querem mais comida. Isso ajuda a criança a desenvolver suas próprias sensações.

 

 

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