A importância da amamentação para o desenvolvimento da mastigação

O desenvolvimento da mastigação tem uma relação muito próxima com a amamentação de acordo com nossa conversa com a pesquisadora da Universidade de Yale, Dra Gabriela Buccin.

A amamentação oferece inúmeros benefícios, como ajudar a criança a desenvolver melhor a forma de mastigar. É isso que vamos explicar neste post, com a ajuda da Dra. Gabriela Buccini, pós-doutoranda da Yale University, nos EUA, doutora e mestre da Faculdade de Saúde Pública- USP, pesquisadora em Amamentação, Primeira Infância e Saúde Pública.

Amamentação e o processo da mastigação

Pode parecer estranho a gente falar em mastigação para um bebê que acabou de nascer e ainda nem tem dentes, não é mesmo? Mas, não. O desenvolvimento de todo sistema que vai ajudar na mastigação começa assim que seu filhote nasce. A Dra. Gabriela Buccini explica que o processo de mamar no peito exige do recém-nascido que ele aprenda a extrair o leite do peito da mãe num esforço que envolve um movimento muscular e mandibular intenso e mais complexo do que a simples sucção. Nesse movimento, toda a musculatura da língua trabalha ativamente e a mandíbula realiza movimentos de elevação/abaixamento. Isso tudo gera impulsos neurais que promoverão o crescimento da mandíbula e o desenvolvimento orofacial harmônico, favorecendo a adequada evolução do sistema estomatognático que é responsável pela sucção, deglutição, mastigação e respiração e a formação da arcada dentária. Ufa! Quanta coisa a amamentação faz além de nutrir!

Melhor desenvolvimento dos dentes

Além de auxiliar o pequeno a desenvolver bem a mastigação, a amamentação também pode ajudar a evitar problemas de má-oclusão (dentes desalinhados, mordida torta ou cruzada, por exemplo). De acordo com a Dra. Gabriela, pesquisas feitas ao redor do mundo mostraram que a amamentação exclusiva tem uma reação positiva na prevenção desses problemas ortodônticos e, quando falamos do período prolongado de mamar (mais de 6 meses), há um impacto forte na prevenção de qualquer tipo de desalinhamento entre os dentes. Já quando os bebês são expostos aos bicos artificiais de mamadeiras, por exemplo, a chance de desenvolver a má-oclusão é ainda maior.

A importância da introdução alimentar e o processo da mastigação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a amamentação exclusiva até os 6 meses de idade. Depois desse período, os bebês devem continuar mamando até os 2 anos ou mais, e começar com a alimentação complementar saudável. O Ministério da Saúde no Brasil também indica que a introdução dos alimentos complementares deve ser lenta e gradual. Se a opção for iniciar com papinhas e purês, a consistência deve mudar gradativamente até chegar à alimentação da família. Não há a necessidade de passar os alimentos pela peneira e nem bater no liquidificador.

Os reflexos para começar a mastigar

A partir dos 6 meses o bebê já tem maturidade neurológica e fisiológica para receber alimentos em novas consistências. Os reflexos necessários para a mastigação já estão desenvolvidos, a criança já manifesta excitação à visão do alimento, sustenta a cabeça e muitas vezes já se senta com apoio, o que permite uma melhor movimentação da mandíbula para melhor exercer a função de mastigação e facilita a alimentação oferecida por colher. A introdução da alimentação complementar em consistência de papa/purê vai estimular a função de mastigação da criança, ou seja, o processo coordenado de lateralização da língua, jogando os alimentos para os dentes trituradores. Nessa fase também inicia-se o nascimento dos primeiros dentes, o que facilita a mastigação. Vale ressaltar que a criança que ainda não tem dentes, tem capacidade de mastigar o alimento apenas amassado com o garfo, isso porque a trituração dos alimentos é realizada com as gengivas, que já se encontram suficientemente endurecidas, devido a aproximação dos dentes.

A transição da consistência dos alimentos deve respeitar o desenvolvimento da criança

Nessa fase é importante que o bebê receba diferentes e novos tipos de consistências (até os 10 meses de vida), uma vez que a introdução alimentar tardia parece estar associada à pior aceitação e também à maior dificuldade ao ato de mastigar. As diferentes texturas dos alimentos promoverão esse “treino” gradativo do aprendizado da mastigação. Esse ato irá promover o crescimento ósseo adequado da face por meio dos estímulos musculares e dos movimentos de lateralização da mandíbula. Esses estímulos dependem principalmente dos volumes do bolo alimentar, de sua textura, dos níveis salivares, da força de mastigação e do refinamento dos contatos entre os dentes. Quando esses estímulos não ocorrem, ou seja, quando a textura dos alimentos não exige esforço mastigatório suficiente, pode haver o risco de comprometer o crescimento ósseo da face ou um crescimento assimétrico, agravando problemas ortodônticos. Essa falta de estímulos também pode afetar a tonicidade muscular e comprometer as funções do sistema estomatognático (sucção, deglutição, mastigação e respiração e a formação da arcada dentária)  

E quando as mães não conseguem dar de mamar?

A gente sabe que muitas mamães querem ver seus pequenos sempre muito saudáveis, mas que apesar dos esforços, algumas não conseguem amamentar por alguma dificuldade específica ou problema de saúde. Para esses casos, segundo a Dra. Gabriela, a falta de estímulos promovidos pela amamentação pode gerar desequilíbrios nas funções de sucção, deglutição, mastigação e respiração. E é nesse momento que se torna ainda mais importante a introdução alimentar adequada, oferecendo diferentes texturas no tempo certo, e dando oportunidade de experimentar novos e diferentes sabores, respeitando o tempo da criança. A alimentação saudável irá garantir a boa mastigação e o desenvolvimento do filhote.

Referências

Peres KG, Cascaes AM, Nascimento GG, Victora CG. Effect of breastfeeding on malocclusions: a systematic review and meta-analysis. Acta Paediatr. 2015; 104(467),54-61.

Victora CG, Bahl R, Barros AJ, França GV, Horton S, Krasevec J et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016; 387(10017): 475-490.

Rollins NC, Bhandari N, Hajeebhoy N, Horton S, Lutter CK, Martines JC et al. Why invest, and what it will take to improve breastfeeding practices? Lancet. 2016; 387(10017): 491-504.

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